Sidão revela atitude de Luxemburgo em briga, exalta Vasco e fala de trabalho de Diniz: “Era surreal”
Por Eduardo Statuti e Nathalia Gomes
Depois de passar por grandes equipes do futebol brasileiro, Sidão se prepara para enfrentar um novo desafio pelo Azuris, no Campeonato Paranaense, em 2024. Em entrevista exclusiva ao 365Scores, o goleiro relembrou os percalços em sua carreira e revelou histórias curiosas sobre os trabalhos de Fernando Diniz e Vanderlei Luxemburgo.
Antes de atuar em gigantes do futebol brasileiro como São Paulo, Vasco da Gama e Botafogo, o defensor fez parte do elenco do Audax comandado por Fernando Diniz, que encantou os paulistas em 2016 e quase levou o Estadual. Ao relembrar o trabalho com o atual treinador da Seleção, o jogador cita o susto com as atitudes do comandante e explica os gritos do técnico.
“Na época era complicado, por não entender muito como ele trabalhava. A gente vê que ele é bem enérgico. Confesso que vocês conhecem só o do campo, todos deviam conhecer o Diniz extracampo. Ali ele se transforma, quer que os atletas coloquem tudo que foi trabalhado. Trabalhamos muito com ele, principalmente a questão de jogar com os pés. Ele sabe fazer muito bem, consegue dar nó nos adversários por isso. Foi um período que aprendi muito, sou muito grato ao Diniz, me desenvolvi muito como atleta e ser humano. Fico muito feliz de ver ele conquistar os títulos, não só ele como o Eduardo e o “Wagnão””, disse Sidão.
“Era loucura no começo. Ficávamos muito p****. Geralmente os treinadores cobram, mas não como ele. Era surreal, muito enérgico, palavrão, não estávamos acostumados. Ele chegou a explicar para nós, às vezes entramos em um estado de medo, e com o grito ele tira a gente desse estado. Ou o cara fica bravo e começa a jogar ou se entrega de vez. Tira o cara do estado de anestesia. Ele acredita nessa porrada. Quando ele explicou, entendemos o sentido da cobrança”, recordou o goleiro.
Além disso, o atleta recordou também a importância da convivência com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que recentemente dirigiu o Corinthians e levou o clube à semifinal da Copa do Brasil. Para Sidão, o “pofexô” foi o maior gestor de clube com quem já atuou e revelou uma história.
“O Luxemburgo foi o maior gestor de pessoas que eu já vi. Nunca vi igual. Ele controla muito bem o vestiário, a torcida, imprensa, funcionários. Ele tem o dom de controlar ambientes. Já vi coisas acontecerem no vestiário do Vasco onde ele foi fera”, afirmou.
“Teve confusão de atletas. Houve um caso de acusação. O clima ficou quente no vestiário. O Luxemburgo chegou e disse: “Vocês querem brigar é? Briga os dois que eu quero ver”. Ele mandou soltar os dois e falou que eles podiam brigar. Acabou que não teve briga. Isso ficou marcado para mim. Ele sabe como funciona o vestiário”, contou o goleiro.
São Paulo e Vasco
Após se destacar pelo Audax e ter uma curta passagem pelo Botafogo, Sidão chegou ao São Paulo por um pedido de Rogério Ceni, que falou do jogador em uma entrevista coletiva. A chegada ao Tricolor ainda contou com grandes atuações na Florida Cup.
“Começou pelo convite do próprio Rogério Ceni. Nós jogamos e esquecemos do que os outros veem. Nunca imaginei que ele admirasse meu futebol. Fomos para a Florida Cup. Empatamos com o River Plate, entrei no segundo tempo, peguei duas cobranças de pênalti. Na final contra o Corinthians, empatamos, e eu, novamente entrei no segundo tempo e peguei mais duas cobranças. Fiquei surpreso, ele também pegou três pênaltis na estreia dele em um torneio parecido”, relembrou.
“Não só é ídolo como referência. Fazia os jogos com os pés antes de todo mundo. Depois dele todo mundo queria bater falta, pênalti. Eu admirava demais. Era fascinante estar do lado dele, absorver tudo que ele tinha para passar”, elogiou.
Sidão
Já no Vasco, o goleiro passou por um momento traumático quando recebeu a premiação “Craque do Jogo”, que elege o melhor jogador em campo, na partida contra o Santos, quando na verdade tinha falhado em vários lances.
“Eu já falei bastante a respeito disso. Hoje está superado, mas ficaram consequências. Estava vivendo um momento bom, vestindo camisas de grandes clubes. Foi difícil chegar lá, ralei muito para conquistar. Infelizmente esse episódio me marcou de forma negativa. Sofri bastante profissionalmente, emocionalmente. Agora meu esforço é dar a volta por cima”, relembrou.
“Todos me abraçaram, mas a grande maioria dos clubes sentiu as dores. Mas eu sou extremamente grato ao Vasco, a torcida foi sensacional. Contra o Avaí, em São Januário, fui um dos melhores em campo, a torcida me deu a força para continuar trabalhando. Altos e baixos acontecem na vida do goleiro, mas esse episódio ficou marcado de maneira extremamente negativa. Hoje todos lembram disso quando me encontram na rua, esquecem tudo que fiz dentro de campo. Quero tirar esse rótulo, mostrar que está superado, tive condições de chegar onde cheguei”, afirmou Sidão.
“Quando cheguei no Vasco a briga era para não cair e conquistamos a vaga para a Sul-Americana. Eu queria continuar, porque foi um ano difícil, plantamos muita coisa boa e teríamos condições de colher. Mas o Vasco não tinha condições de ficar, ou não quis, e o Goiás tinha os direitos e eu acabei voltando ao Goiás”, complementou.
Futuro
Agora, o jogador pensa em recuperar seu futebol atuando pelo Azuris, no Campeonato Paranaense, para conseguir chamar atenção de outras equipes para o segundo semestre, uma vez que o seu time atual não tem calendário para o ano todo. O goleiro ainda revela que pensa em voltar à elite do futebol brasileiro.
“A princípio penso em fazer uma boa campanha com o Azuris, uma história que conheço. Fazer uma boa campanha, aí as coisas começam a aparecer. Mas quero trabalhar o ano todo. O que conheço de futebol, fazendo uma boa campanha com o Azuris, aparece alguma coisa boa no segundo semestre”, afirmou.
“Meu maior sonho é voltar à Série A. Sou realista, não vou voltar jogando direto (como titular) em um time de Série A. Mas minha carreira sempre foi marcada por oportunidades. Quero a oportunidade de voltar a um grande clube e encerrar minha carreira de forma digna”, disse.
Veja outros trechos da entrevista de Sidão:
Novo desafio
“Eu estou morando em Santa Catarina há três anos, desde que vim jogar no Figueirense. Agora estou com data para me apresentar no Azuris para jogar o Paranaense. O objetivo é uma vaga na Série D. Clube novo, bem estruturado, focado em atletas da base que estão na Copa Umbro. Temos o objetivo de colocar o time na Série D. Estou muito empolgado em ir para um clube estruturado e que dá condições para nós trabalharmos bem e desempenhar dentro de campo”
“Já joguei a Série A do estadual aqui (Santa Catarina). Já trabalhei na base do Paraná. A expectativa é fazer um bom trabalho, voltar com mercado nacional para o segundo semestre, fazer uma boa campanha para abrir os olhos de um time na Série B ou até mesmo na Série A”
Estilo Diniz
“Eu tirei uma lição muito forte com ele a respeito de treinamento. Ele tinha o goleiro titular dele e nós ficamos três anos juntos. Nos três anos fui reserva. No treinamento eu fazia as atividades muito relaxado por saber que não ia jogar. Um dia ele conversou comigo. Nos faziamos um treino reduzido para treinar a saída, e nós driblavamos muito os atacantes. Até que um dia ele me questionou se eu faria aquilo no jogo. E eu, bocudo, disse que era só me colocar para jogar”
“Acabou acontecendo com um amigo meu, estávamos treinando marcação pressão, e a gente dando a vida para fazer gol no time titular e conseguimos sair de trás. Um colega nosso deu chapéu e fez um golaço. Ele disse: “quero ver fazer isso no jogo”. Ai fizemos um jogo treino contra o Santos e ele foi dentro do moleque: “Faz agora, dá chapéu, faz o que fez o treino”. Aquilo entrou na minha mente, tenho que treinar como vou fazer no jogo. Ai quando tive a oportunidade em 2016, fiz o que fazia nos treinos e foi muito bom para a confiança. Até hoje eu passo isso para os mais jovens”
Diniz na Seleção
“A gente cria muito tabu. Toca a bola pro goleiro e falavam para jogar sério. E cria o tabu de dar chutão, mas ele treina muito para isso. Antes conseguia fazer em time pequeno porque não tinha pressão. Aí fez em time grande, foi campeão da Libertadores. Ai dizem que no clube é legal, quero ver na Seleção. Mas no Brasil acho mais difícil fazer a saída de bola porque não costumam marcar em cima do Brasil, porque os adversários sabem que é perigoso tomar gol. Tenho certeza que quem pressionar o Brasil, vai ver o time sair jogando”
Audax de 2016
“Esse time mudou a história de todos os atletas. Eu particularmente tinha mais de 30 anos. Era difícil vislumbrar jogar em grandes clubes sem ter passado por eles. Esse time do Audax mudou a realidade de todo mundo. Sinto ter perdido o contato pelas camisas que vestimos depois. Por conta da rivalidade não continuamos, mas converso com o Tchê Tchê e com o Camacho. Mantemos contato, mas não somos a família que formamos. Mas o carinho e a torcida continuam o mesmo”
São Januário
“Os caras sempre perguntam como é em São Januário. Quando tá indo bem, é sensacional, mas quando vai contra, o cara tem que ter cancha. É pressão. A lateral direita, que o pessoal fica muito perto, dá para fazer contato visual. O adversário com certeza sente. É o grande ponto do Vasco jogar lá. O adversário sente e eu espero que o Vasco se firme em São Januário, poder usufruir da sua casa e conquistar os pontos que precisa”
Ano sem poder jogar
“Sou ser humano. Tiveram momentos difíceis. Após o episódio, eu sai do Vasco, tive a oportunidade do Figueirense. O Goiás não tinha muito interesse. Eu vim para cá, fizemos um trabalho legal, depois veio a pandemia. O Goiás não deixou eu renovar o empréstimo e cobrou que eu voltasse para ficar só treinando. Depois disso, fiquei aguardando algo nesse nível, mas o tempo passou e as portas estavam sempre fechadas. Hoje sabemos que a opinião pública é fundamental nas contratações, a torcida é o termômetro. Sempre que ventilavam meu nome, vinha a história do troféu e eu fiquei o ano todinho de 2021 batendo nas portas e elas fechadas. Foi um ano difícil como ser humano, pensei em desistir. Mas não parei de treinar, isso que mantinha a chama acesa”
Diferenças das divisões do futebol brasileiro
“Tem muita diferença, as outras divisões tem melhorado bastante. A Série B está em um nível bem alto, a Série C tem melhorado, mas a Série D ainda tem muito a melhorar. A CBF tem condições de fazer melhor, a questão logística. Ainda assim é regionalizado, mas é tudo de ônibus, estamos correndo risco. São riscos que não percebemos. Mas dá para melhorar, questão de visibilidade também”
Torcida mais chata do Brasil
“Já peguei Maracanã cheio contra e a favor. No estádio do Corinthians a torcida é chatinha. Quando sofre gol eles cantam. Nos outros estádios geralmente fazemos o gol e escutamos nossa torcida. No do Corinthians parece que quem fez o gol foram os caras. Athletico-PR também tem um caldeirão”
Aposentadoria
“Penso em jogar mais alguns anos. Temos algumas metas para conquistar. Tenho consciência, tenho uma boa forma física. Tenho condição de fazer melhor, me cuido muito. Tenho lenha para queimar. Não penso no dia exato. As coisas vão acontecendo. Gosto muito de ver o Fábio com 43, nós vamos atrás para quebrar o tabu da idade no futebol. Daqui uns três anos pensamos no que fazer”
Como pretende ser lembrado no futuro
“Eu recebo muitos elogios. Um dos maiores elogios é sobre minha pessoa. É um legado legal como atleta. As conquistas ficam marcadas, todos vislumbram o troféu. Mas ser marcado como pessoa é muito legal. E também ser lembrado como um cara que se empenha muito. Mostrar que é possível sair do zero e conquistar seus sonhos”