Exclusivo 365Scores: Nutricionista do time de rugby fala sobre preparação de Raquel Kochhan para Paris 2024
Por Nathália Gomes e Rodrigo Calvino
As Yaras, seleção de Rugby Sevens, estreiam na Olimpíada de Paris no próximo domingo, porém fizeram uma apariação bastante especial já na cerimônia de abertura, nesta sexta-feira. A porta-bandeira do Brasil foi a atleta do rugby sevens Raquel Kochhann, que recentemente se curou de um câncer.
O 365Scores entrou em contato com a nutricionista do time Brasil, Mariana Guerra, para saber como foi a adaptação da alimentação de Raquel desde a descoberta da doença até a ida a Paris, e também para entender como foi o processo de preparação para os Jogos.
“O trabalho com ela foi a primeira missão depois que me formei. Acho que vai ser o caso mais marcante da minha história na nutrição, porque, de fato, ela é um fenômeno. O trabalho com ela foi bastante específico e especial”, começou Mariana, que exemplificou a diferença da dieta de Raquel para a das demais.
“A principal recomendação foi de evitar carboidrato sendo consumido de forma isolada. Então, sempre ter ali ou um carboidrato mais complexo, mas sempre envolver também consumo de fibras, proteínas. Aos pouquinhos a gente está retomando esse consumo de carboidrato, porque o carboidrato é sinônimo de desempenho físico. Pra ela, nesse processo de quimioterapia, a gente tentou ir por todos os caminhos que talvez fosse ajudar mais”.
Apesar de toda a mudança nutricional para que Raquel obtivesse êxito no tratamento, Mariana ressaltou que o foco da atleta de 31 anos foi o diferencial para que a batalha fosse vencida. A nutricionista revelou que a porta-bandeira nunca se distanciou do rugby, seguindo com os treinamentos normalmente, e, durante todo o processo, chegou a ganhar massa muscular.
“O processo de quimioterapia dela foi sensacional. Ela sempre tava treinando, sempre tava comendo muito bem, fazendo as melhores escolhas e durante o processo de quimioterapia foi onde ela mais evoluiu com as avaliações antropométricas. Quando ela diz que não se distanciu do rugby, é verdade. Ela nunca parou de treinar”, revelou Mariana, que completou: “Ela conseguiu ganhar bastante massa muscular e diminuir bastante a massa adiposa, que foi algo que ela nunca tinha conseguido antes da quimioterapia. Então, o processo de quimioterapia, pensando em avaliação nutricional, foram as melhores avaliações. Ela é bizarra. É muito dedicada”.
Bastante em alta desde que foi anunciada como porta-bandeira, Raquel segue com a agenda cheia. A movimentação, entretanto, preocupou a nutricionista, que entrou em contato com a atleta para saber como está o desafio da alimentação em Paris.
“Eu até conversei com ela hoje de manhã, porque eu vi algumas fotos, até me preocupei um pouco, falei, ‘meu Deus, ela tá fazendo muita coisa lá, ela precisa comer bem’. Eu mandei mensagem pra ela, óbvio que quando elas estão longe, o meu acompanhamento é online, então é muito WhatsApp, é muita conversa. Mas lá eles têm muita oferta, eles têm muita opção de comida”.
“Tem a Casa Brasil com comidas típicas, culinária brasileira, mas tem outros tipos de culinária também. Ela falou ‘Mari, tá muito tranquilo, consigo ter lanche aqui, os lanches que costumo fazer no Brasil. Consigo ter opções bem parecidas aqui, barrinhas, frutas, almoço também tem bastante opção’. Então para ela lá é muito tranquilo”.
No entanto, nem sempre foi tranquilo para Raquel se encaixar na dieta prescrita pela equipe de rugby durante seu tratamento. A nutricionista contou que em algumas viagens a atleta sofreu por não ter opções.
“Já tiveram viagens que ela sofreu um pouco, então ela tem algumas opções na dieta que fora do país não é tão fácil de encontrar, mas ela, como ela teve acompanhamento por nutricionistas muito bons, e eu falo isso porque foi o que eu falei, o Rafa (Rafael , né, que me acompanhou e que me formou também, ele teve um papel muito importante na vida dela, porque foi com ele que ela começou esse tratamento. Então, ele ensinou muito, ele ajudou muito ela, e eu só continuei o trabalho, sabe, um trabalho que já foi muito bem feito no começo. Então, ela teve uma educação muito boa”.
Falando em educação nutricional, Mariana afirma que esse é o principal para que as atletas levem seu trabalho a sério. Para a nutricionista, se todos entenderem o processo e o porquê de estarem comendo tal alimento, o resultado é obtido mais facilmente e naturalmente.
“A internet ela te dá muita informação. E é muito difícil você trabalhar em cima do que é, de fato, a praticidade, o que, de fato, vai influenciar o dia a dia, o desempenho, com o que elas veem na internet. No meu ponto de vista, precisa da educação nutricional, que é o ponto-chave”, começou.
“Por exemplo, esse ano foi um ano muito importante para as meninas e elas quase não pararam no Brasil. Todas as competições são internacionais e para países bem distantes, com fuso horário diferente. Não adianta elas terem uma dieta tão regradinha, com arroz e feijão, porque elas vão para o outro lado do mundo e não vai ter isso. Por isso com a educação nutricional você vai saber quais são as substituições que pode fazer”.
“Você está na frente de um buffet com várias opções de alimentos. O que é uma fonte de carboidrato? O que é uma fonte de proteína? Como montar o prato? Dentro de diversas opções, é algo que elas já têm que saber. Não adianta elas ficarem, nossa, regradinho ali no arroz e feijão, porque isso não vai existir fora do país. Tem países que a gente consegue ter uma alimentação super legal, que eles se organizam, que eles preparam as refeições que a gente propõe. Mas a gente não pode esperar isso de todos os lugares”.
Embora o grupo tenha entendido a importância da educação nutricional, Mariana revelou que usa os momentos mais descontraídos para que seu trabalho seja melhor compreendido pelas atletas. A nutricionista disse que prefere se juntar às Yaras durante as refeições pois costuma ser ali o surgimento de dúvidas.
“Eu percebo que a gente consegue uma maior conexão com o atleta nos momentos mais descontraídos, sabe? É churrasco, é uma confraternização em equipe, é uma conversa de Instagram, que me manda um TikTok, enfim. Eu vou sentar com elas e a gente vai conversar. Vai ser ali que as dúvidas vão surgir, sabe? Às vezes, tipo assim, ‘ah, troquei o doce de leite por pasta de amendoim outro dia, é uma troca que faz sentido?’. Nesses pequenos detalhes a gente vai educando e mostrando as trocas que podem ser feitas.
No entanto, engana-se quem pensa que a nutrição atua de maneira isolada na vida das atletas. Segundo Mariana, todos os setores da equipe de rugby estão interligados, tendo assim o êxito de todo o processo visto em campo.
“Não tem como eu olhar para elas só a comida, sabe? Tem que ser muito além disso. Então, todo dia de manhã, a gente chega, o staff se reúne. Nessa reunião, a gente consegue ter, a gente conversa com todas as áreas. Preparador físico, psicólogo, fisioterapeuta, manager, não sempre, mas às vezes tem, quando um treino mais puxado o outro, coach… É uma equipe multidisciplinar”.
“Nessa reunião a gente sempre tem um relatório de como elas estão, que elas respondem logo quando elas acordam. A gente consegue entender qual é o estado de recuperação, se tá com dor, se a gente vai precisar poupar, como que tá em relação ao ciclo menstrual, qualidade do sono. Todos esses pontos a gente conversa antes de ter o treino. O coach explica para a gente como vai ser o treino se vai ser um treino de alta, média ou baixa intensidade, para a gente entender também a nossa função”.
Outros tópicos da entrevista com a nutricionista Mariana Guerra
Notícia da Raquel como porta-bandeira do Brasil
“Eu fiquei muito emocionada. Eu descobri no “Jornal Nacional”. Antes eu não tinha nem lido nada, não tinha visto nada, só fui ver à noite, e eu fiquei muito emocionada. Na hora não me caiu muito a ficha, eu fiquei, ‘nossa, mas será? Sabe? Gente, tipo, que bizarro, como assim?’ Eu não tava esperando. A manager mandou no grupo do rugby, ‘ah, rugby no Jornal Nacional, hoje’, eu falei, ‘meu Deus do céu, tá, vamos assistir’. E, quando eu vi, eu fiquei muito feliz, as meninas também. Todas elas que eu conversei, a gente consegue ver nos vídeos que elas estão muito felizes, porque é uma conquista pra todas nó. A gente viveu, a gente viveu o processo, as meninas que estavam com ela em campo. Elas estavam ali junto com ela, então, é uma emoção muito grande”.
Expectativa para a Olimpíada de Paris
“Eu acho que as minhas expectativas não estão atreladas ao resultado, mas sim a mostrar o nosso rugby, mostrar o que a gente sabe, mostrar o que elas treinam, que elas são muito boas, elas são um ponto, assim, de fato, fora da curva. Então, a gente tem vários perfis de atletas, a gente tem também uma atleta vegana (Marina Fioravanti), né, que é difícil você ter uma atleta vegana, assim, na Olimpíada. Então, ela é uma das nossas grandes atletas também. Eu acho que a ideia delas é mais ou menos a mesma que a minha”.
As Yaras entram em campo neste domingo, às 12h (de Brasília), contra a França. Você pode acompanhar em tempo real com o 365Scores!
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