Basticast: Mário Jorge desabafa sobre incêndio no Ninho do Urubu: “Não queria voltar, queria parar”
Convidado da semana do Basticast, o técnico Mário Jorge relembrou o momento mais difícil da carreira: o incêndio no Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019, que vitimou 10 jogadores da base do Flamengo. O treinador revelou que precisou de suporte para seguir em frente, porém pensou em desistir da carreira.
“Eu não queria voltar, queria parar. Fazer outra coisa. Dos 10, só um não trabalhou comigo, mas ia trabalhar comigo naquele ano. Foi punk (o período pós), foi bem difícil. As duas psicólogas do clube significaram muito pra mim neste período. Elas me ligavam, falavam ‘fica em casa, só vem quando tu achar que tem que vir'”, disse o ex-técnico da base do Flamengo.
Como estava de férias no dia do incêndio, Mário Jorge ficou assustado quando pegou seu celular com centenas de ligações. Sem entender nada, retornou a uma das pessoas, que falou para ele ligar a televisão. Segundo o treinador, ele ficou na mesma posição o dia inteiro: sentado em frente à TV.
“Eu estava dormindo e ficaram ligando para mim direto. Telefone tava tocando fora do meu quarto para não me atrapalhar, mas daqui a pouquinho eu levanto e vejo 130 chamadas no meu telefone não atendidas. Eu fiquei ‘cara, o que houve?’. Liguei para uma das pessoas, que disse: ‘você não sabe ainda?’, ai eu: ‘de quê?’, falou: ‘liga a televisão, bota na Globo'”, recordou.
“Eu liguei a televisão, sentei, eu fiquei, sei lá, de 9 da manhã às 7 da noite na mesma posição, ali sentado, vendo a televisão sem acreditar. Não falei com ninguém. Só recebi uma ligação do clube assim: ‘não fala com ninguém'”.
Mário Jorge ainda comentou sobre a estrutura do Ninho do Urubu, que alojava os meninos em contêineres. “A estrutura era muito boa. Tanto é que eu, para viagens que a gente saía de madrugada, cheguei a dormir lá”.
Com a ajuda das psicólogas do Flamengo, o técnico voltou à ativa. No fim do mês de abril daquele ano, Mário Jorge viajou com os garotos a Dubai, onde foi bicampeão, e também a Verona, para disputas. No entanto, o que ficou marcado para ele foi a relação dos meninos e também homenagem aos falecidos.
“Foi legal porque os meninos meio que se abraçaram, a base toda se abraçou, e tudo que a gente fazia naquele momento ali tinha o cunho de relembrar e homenagear os meninos”.
“É coisa que acontece até hoje. Tanto é que a torcida canta uma música aos 10 minutos do primeiro tempo. Quando tu tá dentro do campo, no Maracanã, e tu escuta isso… Arrepia pra caramba”, finalizou.
Mário Jorge no Basticast
Ex-técnico do Flamengo, Mário Jorge é o convidado da semana do Basticast! Atualmente técnico do sub-17 da Arábia Saudita, ele revelou bastidores da sua carreira, além da relação com grandes jogadores como Marcelo, Paulinho e Bruno Guimarães.