Futebol365 Entrevista

Lisca projeta 2024 com possibilidade de experiência internacional e relembra episódios de sua carreira

Por Eduardo Statuti e Nathalia Gomes

Criado no Internacional como treinador e com origens familiares coloradas, Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, o Lisca, tem se tornado um dos personagens marcantes do futebol brasileiro. Em entrevista exclusiva ao 365Scores, o técnico relembrou episódios de sua carreira e da origem de sua personalidade à beira do gramado.

“Sou doido porque sou apaixonado pelo que faço. Descobri cedo, desde os 14 anos. Comecei nas escolinhas do Inter e mudei minha vida. Convivi com um universo muito diferente da minha realidade. Quebrei preconceitos, o futebol ajudou na minha formação como homem. Quando cheguei no Juventude, surgiu o apelido pelo “Papo doido”, virou “Lisca Doido””, contou o comandante.

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Neto e bisneto de jogadores, Lisca tem no sangue da família Lorenzi o amor pelo esporte e a relação com o Internacional. Seu bisavô, Carlos, foi goleiro da equipe, e seu avô Jorge também atuou na década de 1940. Ao assumir o comando da equipe, em 2016, em uma situação delicada no Brasileirão, Lisca temeu revoltar seus antepassados.

 “O Inter é uma história de família, meu bisavô foi goleiro, treinador na década de XX. Tenho a carteirinha de sócio número 50. Foi treinador na primeira excursão para o exterior. Meu avô também. Meu pai que não deu sequência. Quando comecei já era um sonho. Passei por todas as categorias e estive nos últimos jogos do rebaixamento. Foi doloroso, mas quase uma convocação. O Inter tinha o Odair, mas ele tinha perdido um clássico de 5 a 0. O presidente Fernando Carvalho pediu minha ajuda. Não conseguimos escapar, precisávamos de sete pontos, fizemos quatro. Todos entenderam, dificilmente me culpam, mas sempre lembram que eu estava. A torcida me trata com carinho enorme. Sinto orgulho de ter encarado e não deixar o time na mão. Se não, meu bisavô e meu avô iriam puxar meu pé”, afirmou o técnico.

Carlos de Lorenzi (de camisa branca), bisavô do técnico Lisca, no time do Inter de 1919 — Foto: Reprodução
Carlos de Lorenzi (de camisa branca), bisavô do técnico Lisca, no time do Inter de 1919 — Foto: Reprodução

Assim como seus familiares, o o também chegou a jogar nas categorias de base quando mais jovem, mas foi na beira do gramado que ele se destacou. O porto-alegrense passou por praticamente todos os estágios, desde o infantil, até a Série A do Campeonato Brasileiro.

“Eu fui joguei até o juniores. Mas é muito diferente ser o atleta e o comandante. Hoje em dia está muito diferente, os atletas têm muito mais informação. Na minha época era muito coordenado para fazer as coisas. A preocupação era o treino. Agora como comissão técnica, é 24 horas por dia. Estudar, analisar o treino, adversário, gestão de pessoas, relação com a imprensa. Uma demanda que exige muito em casa. É bem diferente, é como um cavalo virar jóquei. Só por ter sido jogador é normal ter mais facilidade para ser treinador. Mas tem que se capacitar para orientar”, relembrou.

Os craques da base

No tempo em que atuou nas categorias de base da equipe gaúcha, Lisca participou da formação de grandes jogadores como Rafael Sobis, Luiz Adriano e Pato. Posteriormente, no São Paulo e no Fluminense, trabalhou com Marcelo,  Kaká, e Júlio Baptista. Dentre eles, o destaque do Mundial de Clubes de 2006 foi o que mais impressionou o comandante.

“Como trabalhei muito tempo na base, passei pelo São Paulo, onde treinei o Kaká, o Julio Baptista. No Fluminense treinei o Júnior do Fluminense, o Lucas Leiva, o Marcelo. Vai te dando um parâmetro muito alto. Começou com Fábio Pinto e Diogo Rincon, depois Lúcio. Aí veio a geração dos atacantes, com os jogadores mais altos e técnicos. O primeiro foi o Nilmar, depois o Sóbis, Luiz Adriano, Pato. Foram cinco anos de jogadores de nível A”, disse.

Foto: Getty Images

“Mas o Pato quando vi jogar com 16 anos, promovi para o time B para queimar etapas. Com 17 anos ele jogou o Mundial. Mas quando vi jogar contra o Caxias no infantil do Inter, ele fez um gol de direita, um de esquerda e um de cabeça. Para mim ficou fácil saber que cedo ele ia sair. Mas todos os que eu falei já no juniores se destacavam”, rememora Lisca.

“Muita técnica, muito rápido. Na base ele era muito rápido, agressivo. Costumo falar que parecia que ele vinha de patins. Técnica aliada a força e velocidade. Teve um coletivo juvenil e júnior que ele jogou muito e convencemos ele a subir para o juniores um ano antes. Mas duas semanas depois o Abel levou ele. O Marcelo me deve algumas caronas de Xerém para o Rio de Janeiro. Ele tem pouco título”, brincou o técnico.

Ronaldinho Gaúcho

Apesar de não ter trabalhado com o “Bruxo”, o treinador chegou a enfrentar o atacante nas categorias de base e também comandou um time que era gerenciado pelo irmão do craque, Assis. Quando teve o embate, o profissional teve que fazer ajustes no sistema defensivo.

“Enfrentei ele como treinador. Era muito difícil, tinha que ter um sistema defensivo efetivo, porque a marcação individual não funcionava. Era um absurdo a coordenação, a técnica. A bola parecia que fazia parte do corpo. Mais tarde trabalhei no clube dele e do Assis, ganhamos a segunda divisão. Tínhamos certeza que ele seria destaque mundial. Eu falei para meu pai que teríamos o melhor jogador do mundo e quando aconteceu, ele lembrou”, relembrou.

Foto: Matthew Ashton/EMPICS via Getty Images

“As pessoas acham que é fácil ser jogador. O Ronaldinho por exemplo, com nove anos jogava futsal, tinha jogo sábado 8 da manhã, domingo, depois ia para o Grêmio. Hoje cada vez mais cedo, com meninos de 11 anos com contrato com empresário, multinacional. Eu conversava com o Assis quando o Ronaldinho estava terminando a carreira, perguntava o motivo de não jogar mais um pouco e ele dizia que conversava, mas já tinha 30 anos, uma receita que ninguém imagina, ganha dinheiro com a imagem, é difícil convencer”, analisou Lisca.

Dos bons trabalhos aos rótulos

No cenário nacional, Lisca ganhou destaque com seus trabalhos por Juventude, América-MG e Ceará. No caso do time gaúcho, ele teve que iniciar todo o trabalho de uma equipe que sequer estava na Série D. No caso dos mineiros e dos cearenses, a briga era pela Série A, seja como acesso ou permanência, sendo os dois clubes que o comandante guarda com mais carinho.

“Foi como eu consegui subir na profissão. Isso ajuda muito. O jogador de futebol já larga na frente. Eu passei por escolinha, tudo, Série D, C, B. Foi como eu abri espaço. No Juventude, nem na Série D estávamos. Quando cheguei no Náutico eles tinham sido rebaixados 12 rodadas de antecedência. Quando cheguei, eles tinham sete jogadores e cinco falaram que não iam ficar”, explicou o técnico.

“Aí começaram a ligar para os caras. Fizemos o time e fomos vice-campeões pernambucanos. No Ceará em 2015, com 98% de chance de cair, faltando 10 jogos, conseguimos. Depois na primeira oportunidade na Série A, em 2018. Depois da Copa, apareceu o Lisca Doido. No Guarani em 2017, eles não ganhavam há 15 rodadas, tinha que ganhar quatro, conseguimos na última rodada. No Paraná, não podia sofrer para não cair e em nove rodadas saímos de 15 para quinto”, relembrou.

“Foi um fim de ciclo, o acesso, a semifinal da Copa do Brasil. Era um time de Série B, para isso acontecer é difícil porque os times da Libertadores voltaram a participar. A última vez que tinha acontecido foi com o Corinthians em 2008. Depois fomos vice do Mineiro, contra o Atlético multicampeão do Cuca. Houve um período de transição e o América ficou mais moroso na sequência do projeto. Tinha muitos convites. Falei para deixar eu sair antes e depois procurar um time”, afirmou sobre o trabalho no Coelho.

Planos para 2024

Após um ano menos ativo, com uma curta passagem pelo Vila Nova, que durou apenas quatro jogos, Lisca vislubra até mesmo um futuro fora do Brasil. Entretanto, reconhece que talvez antes será necessário mais um “trabalho de recuperação”.

“Voltar para o mercado, inicialmente para o internacional. Como não trabalhei muito esse ano, sei que é mais difícil. Talvez fazer trabalhos de recuperação. Esse ano recebi vários convites, mas preferi dar uma descansada, curtir a família. As meninas iam comigo até 2016, hoje vou sozinho. Elas têm, uma 17 e a outra 14. Uma já se formando. Esse ano fui à escola ver os prêmios que elas ganharam. O plano é voltar, quando começar a mexer o mercado”, projetou.

“A nova geração tem dificuldade em galgar espaço. Barbieri, Jair, Eduardo Batista, Lisca Cristovão Borges, Marquinhos Santos, Sylvinho. É difícil a sustentação no clube. Quanto maior o clube, mais canais. O Sylvinho estreou contra mim, o Corinthians não tinha nada, jogou só na retranca. Passou umas dez rodadas, vi um jogo deles contra o Ceará, já tinha um padrão estabelecido, circulação, jogo de posição, marcação alta, muita evolução. Mas a mídia não vê isso”, declarou Lisca.

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