Infantino defende Catar de críticas: “Essa lição de moral é hipócrita”
Na véspera da abertura da Copa do Mundo, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, defendeu o Catar das críticas e falou também sobre a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios do Mundial.
O mandatário fez um discurso de mais de 45 minutos onde criticou os europeus pelo que chamou de “ataques hipócritas”. Nos últimos anos, a imprensa divulgou algumas faltas de condições ideias para os trabalhadores e imigrantes na construção dos estádios.
“Os europeus têm que se desculpar por terem feito o que fazem pelo mundo nos próximos 3 mil anos. Quantas companhias europeias e do mundo ocidental estão fazendo bilhões com trabalho por aqui e quantos deles estão se preocupando com direitos para os imigrantes? Eu tenho a resposta: nenhuma. Por que mudar isso diminui o lucro. Não preciso defender o Qatar, eles se defendem sozinhos. Mas quanta gente está aqui pelo combustível e quem se preocupa com as condições de trabalho? A Fifa se preocupa, o futebol se preocupa, o Qatar se preocupa”, afirmou Infantino.
“Nós (europeus) fechamos as fronteiras e não permitimos que eles trabalhem de forma legal nos nossos países. E eu digo legal, porque a gente sabe que tem muita gente ilegal nos nossos países e isso não é a coisa certa a ser feita Por isso, aqueles que querem ir na Europa precisam percorrer uma jornada muito difícil. Muitos nem sobrevivem. Se vocês se preocupam realmente com isso, façam como o Qatar fez. Criem meios legais para que ao menos uma porcentagem deles consiga para ter um pouco de futuro, nem que seja pagando salário mínimo, mas que ao menos dê futuro”, completou.
“Não significa que não pode falar do que não deu certo. Mas essa lição de moral é hipócrita. Progressos tem sido feitos no Qatar, o salário mínimo foi introduzido, há mecanismos de proteção ao trabalhador, proteção contra o calor. Muita gente não sabe ou finge não saber disso”, finalizou.
“Me sinto qatari, árabe, africano, gay, com deficiência e eu sinto tudo isso”
Antes de rebater as críticas sobre o país sede da Copa do Mundo, o presidente comparou as condições dos trabalhadores com as suas na infância ao ser italiano que morou na Suíça e disse que consegue se sentir na pele dos imigrantes que estão no Qatar .
“Eu me sinto qatari, árabe, africano, gay, com deficiência e eu sinto tudo isso. Quando eu vejo essas coisas e o que dizem eu lembro de histórias pessoais. Meus pais trabalharam muito difícil em situações diferentes, não no Qatar, mas na Suíça, e eu me lembro muito bem o que acontecia com os passaportes, com os exames médicos e condições em geral. Quando eu vim para Doha eu entendi que tinham coisas a melhorar e hoje eu posso dizer que o Qatar também evoluiu nisso”, falou.
“Claro eu não sou qatari, árabe, gay, africano, deficiente, não sou um trabalhador, mas eu me sinto como eles. Por que eu sei como é ser discriminado, como é sofrer bullying, como é ser estrangeiro. Eu quando era criança na escola sofria por ter cabelo vermelho, porque eu era italiano e não falava um bom alemão. E o que você faz? Você olha para baixo, você chora e aí você tenta fazer amigos, tenta falar e se envolver e aí tenta com esses amigos para se engajar, não xinga, não briga, você tenta se enturmar. E isso é o que a gente tem que fazer”, afirmou.
E a cerveja?
Sobre a questão de não ser permitida a venda de bebidas alcoólicas no estádio, Infantino afirmou que a decisão foi tomada em conjunto entre autoridades locais e a entidade tentou afastar os rumores de que o caso causou uma crise com patrocinadores.
“Essa é a única questão para Copa, eu vou assinar e ir para a praia. É uma decisão foi tomada de forma conjunta entre Fifa e Qatar. Toda decisão foi discutida entre as duas partes. Haverá espaços Fan Fest onde podem comprar álcool, até 100 mil pessoas. Acho que, pessoalmente, se por três horas no dia vocês não puderem beber, vocês vão sobreviver. Nós tentamos ver se era possível, mas não foi”, explicou.