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História do Futebol Feminino no Brasil

As primeiras referências de partidas da história do futebol feminino surgiram nos anos 20. Ainda de forma tímida, a prática ganhou registro em jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte.

Até a década de 40, o futebol entre mulheres era longe de clubes ou grandes ligas. A prática era realizada em periferias e, apesar de não ser proibida, a modalidade era considerada violenta e ideal apenas para homens.

Devido a esse pensamento, o futebol foi proibido para mulheres em duas oportunidades: 1940 e 1965, sob governo militar. No entanto, o decreto-lei que não permitia a prática do esporte foi extinto na década de 70 e, desde então, mudanças foram estabelecidas ao futebol feminino.

Quando surgiu o futebol feminino no Brasil?

A história do futebol feminino no Brasil começa na década de 20, porém de forma ainda tímida. A modalidade ganhou registros de jornais no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte, mas era vista como uma performance ou show, e não uma partida.

Até a década de 40, o futebol não era disputado por clubes ou grandes ligas. O esporte era jogado em periferias. Mesmo que não fosse proibido, era considerado violento e ideal apenas para homens. No entanto, em 1940, o cenário ameaçou uma mudança.

Uma partida entre mulheres foi realizada no Pacaembu, mas, ao invés de fomentar a prática, gerou revolta em parte da sociedade. As notícias sobre futebol feminino provocaram esforços da opinião pública e autoridades para a proibição do esporte.

Por Que o Futebol Feminino foi Proibido no Brasil?

O futebol feminino foi proibido no Brasil pela primeira vez em 1941, quando ocorreu um processo de regulamentação do esporte. O presidente Getúlio Vargas assinou um decreto-lei (3199, art. 54) que proibia as mulheres de praticarem esportes que não fossem “adequados a sua natureza”.

Neste mesmo ano, o Conselho Nacional de Desportos (CND), que pertencia ao Ministério da Educação, publicou uma lista de esportes proibidos para as mulheres, entre eles o futebol, o halterofilismo, o beisebol e as lutas.

A justificativa para o veto desses esportes era de que eles poderiam afetar as funções orgâncias, o equilíbrio psicológico e até mesmo prejudicar a capacidade das mulheres em serem mães.

A nova proibição ocorreu em 1965, já no governo militar. Novamente foi publicado um decreto-lei, porém desta forma mais detalhado. Assim como em 1941, circulavam novas notícias de mulheres jogando futebol de forma clandestina.

DECRETO-LEI N. 3.199 – DE 14 DE ABRIL DE 1941
CAPÍTULO IX: DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompativeis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.

A proibição durou até o fim da década de 70, quando a lei que proibia as mulheres de jogarem futebol foi revogada. A partir daí, foi considerado o início de uma nova jornada para a modalidade entre as mulheres.

No entanto, embora não fosse proibido, o futebol feminino não recebeu estímulo de clubes e federações, pois não havia sido regulamentado. Desta forma, ele enfrentava pequenas proibições e preconceitos pelo país.

Liberação e Regulamentação do Futebol Feminino no Brasil

Apenas em 1983 a modalidade foi regulamentada. Com isso, foi permitido que se pudesse competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas. Clubes como o Radar e Saad surgem como pioneiros no profissionalismo. Eram alguns dos times competitivos da época.

Entre 1983 e 1988, o Radar garantiu o hexacampeonato do Campeonato Carioca e da Taça Brasil de Futebol Feminino. As paulistas conquistaram títulos de relevância, como o tricampeonato do Troféu Comitê Olímpico Internacional (entre 1993 e 1995) e a Copa do Brasil (2007).

Em 1988, a Fifa realizou um Mundial com caráter experimental, que foi disputado na China. Em inglês, a entidade chamou a competição de Women’s Invitational Tournament. A seleção brasileira foi montada conforme os elencos do Radar e do Juventus, que tinha o time feminino mais forte do Brasil.

Não houve nenhuma confecção especial de roupas para as jogadoras, e as convocadas viajaram para o Mundial com as sobras das roupas dos homens.

Mesmo sendo em caráter experimental, esse torneio serviu de pontapé para o desenvolvimento da modalidade em todo o mundo. Ao todo, foram 12 seleções participantes, e o Brasil ficou com o bronze nos pênaltis.

A História da Copa do Mundo do Futebol Feminino

A primeira versão oficial da Copa do Mundo Feminina reconhecida e realizada pela Fifa foi em 1991, na China. No ano em questão, a seleção dos Estados Unidos saiu vitoriosa ao derrotar a Noruega por 2 a 1.

Na primeira edição, apenas 12 seleções participaram do campeonato mundial. Em 1999, o número subiu para 16, mudando em 2015, quando 24 países participaram do campeonato. Já em 2023, o número de países participantes aumentou para 32.

Na primeira edição da Copa do Mundo Feminina, as partidas contavam apenas com 80 minutos de duração, diferentemente dos 90 minutos tradicionais da modalidade disputada pelos homens. A padronização para os 90 minutos ocorreu apenas a partir da segunda Copa, realizada na Suécia, em 1995.

Copa do Mundo 1991

A primeira edição do torneio organizado pela Fifa teve início dia 16 de novembro e término em 30 de novembro de 1991. Foram disputadas vinte e seis partidas ao longo da competição, e os Estados Unidos saiu campeão.

Para o torneio, a CBF assumiu o time brasileiro oficialmente, porém ainda de maneira amadora. O Brasil viajou com boa parte das jogadores que disputaam o torneio experimental. Pretinha, ainda muito jovem, também fez parte da seleção comandada pelo técnico Fernando Pires.

A seleção brasileira teve menos de um ano de preparação e foi eliminada logo na primeira fase. A zagueira Elane foi a primeira a marcar um gol do país em torneios Fifa, na vitória em cima do Japão. No entanto, o Brasil perdeu para Estados Unidos e Suécia.

Copa do Mundo 1999

Disputada de 9 de junho a 10 de julho, nos Estados Unidos, a Copa Feminina de 1999 foi a terceira edição do torneio feminino. ouve um aumento no número de participantes, das doze, das primeiras edições, para dezesseis seleções. Ocorreram trinta e duas partidas ao longo da disputa.

A seleção anfitriã venceu novamente a competição, e o Brasil ficou na 3ª posição. A artilheira da Copa de 1999 foi a brasileira Sisi, com sete gols marcados, assim como Sun Wen, da China.

Copa do Mundo 2007

Realizada na China, a Copa do Mundo de 2007 foi disputada entre os dias 10 e 30 de setembro, e teve a Alemanha como campeã. Participaram cinco seleções da Uefa, quatro da Ásia, duas da Conmebol, duas da Concacaf, duas da África e uma da Oceania.

Nesta edição, o Brasil alcançou a sua melhor posição, ao chegar na final contra a Alemanha e ficar com o vice-campeonato. A jogadora brasileira Marta foi a artilheira com sete gols.

Copa do Mundo 2019

Oitava edição do torneio da Fifa, o país anfitrião foi a França. A competição ocorreu pela primeira vez neste país, e as partidas foram disputadas de 7 de junho a 7 de julho. Um total de onze cidades diferentes sediam partidas do torneio.

Os Estados Unidos conquistaram mais um título, chegando a quatro, ao derrotarem os Países Baixos na decisão por 2 a 0.

Com dois gols marcados pelo Brasil, um no duelo contra a Austrália e outro contra a Itália, Marta chegou a marca de dezessete gols na história das Copas, superando o alemão Miroslav Klose como maior goleadora em mundiais. Tornou-se ainda a primeira, entre homens e mulheres, a marcar em cinco edições diferentes do torneio.

Foto: Marlon Costa/AGIF

Copa do Mundo 2023

A nona edição da Copa do Mundo foi realizada na Austrália e Nova Zelândia entre 20 de julho e 20 de agosto, sendo a mais tardia neste formato do Mundial. Além disso, foi a primeira vez que as disputas aconteceram em dois países simultamente. Outra novidade foi a ampliação do formato para 32 participantes.

Mas o que de fato marcou a Copa do Mundo foi a fala de Gianni Infantino, presidente da Fifa, horas antes da final entre Espanha e Inglaterra. O dirigente divulgou cinco metas a serem atingidas pelo futebol feminino nos próximos anos:

  • Criação de um mundial de clubes, aos moldes do que já acontece com os homens desde 2000 e 2005 em diante.
  • Criação da Liga Mundial Feminina, seguindo os moldes da Liga das Nações da Uefa.
  • Com o aumento do nível dos jogos registrado nas duas edições anteriores, a entidade decidiu aumentar o número de seleções participantes de 24 para 32, a fim de igualar o formato do torneio masculino, vigente desde 1998.
  • Dobrar as premiações para a Copa de 2023, também igualando estes valores aos dos homens.
  • Dobrar os investimentos no desenvolvimento do esporte para 1 bilhão de dólares.

A Espanha conquistou o primeiro título da seleção ao vencer a Inglaterra por 1 a 0. Aitana Bonmatí foi eleita a melhor jogadora do Mundial.

Quais São as Principais Conquistas da Seleção Brasileira Feminina?

A seleção brasileira feminina ainda não levantou nenhum troféu de Copa do Mundo. No entanto, acumula inúmeras conquistas desde que começou a competir no cenário mundial.

  • Copa América: 8 títulos (1991, 1995, 1998, 2003, 2010, 2014, 2018 e 2022)
  • Jogos Pan-americanos: 3 medalhasde ouro (2003, 2007 e 2015)
  • Torneio Internacional de Futebol Feminino: 7 títulos (2009, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016)
  • Olimpíadas: 3 medalhas de prata (2004, 2008 e 2024)
Foto: Marlon Costa/AGIF

Qual a Importância do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino?

A história do Campeonato Brasileiro é de importância para o desenvolvimento e crescimento do futebol praticado por mulheres. Desde a sua criação, o campeonato tem um papel fundamental para tornar o esporte ainda mais profissional e dar oportunidade àquelas que sonham em viver do futebol.

Com a participação de clubes, as atletas têm a oportunidade de se dedicar integralmente ao futebol, recebendo salários e usufruindo de melhores condições de treinamento e estrutura. Além disso, a cada ano que passa, o Brasileirão Feminino tem ganhado mais destaque e reconhecimento, o que quebra esteriótipos em relação à prática de futebol por mulheres.

O campeonato ainda serve como uma plataforma para o desenvolvimento de jovens talentos. Atletas como Marta, Cristiane e Sisi, que se destacaram pela seleção brasileira, tiveram suas carreiras impulsionadas pelo Brasileirão. Além disso, é a principal competição nacional que serve como classificatória para a Libertadores Feminina e Supercopa do Brasil.

Quais Clubes Foram Pioneiros em ter Equipes Femininas?

Desde 2019, a CBF exigiu que todos os clubes que disputam a Série A do Brasileirão tenham equipes femininas. No entanto, alguns se destacam por já terem investido no esporte para mulheres antes mesmo da obrigação. São eles:

Esses clubes não só ajudaram a estabelecer o futebol feminino no Brasil, mas também tiveram um papel importante na luta por igualdade e reconhecimento.

Esporte Clube Radar (1983)

Localizado no Rio de Janeiro, o Radar é considerado um dos primeiros times profissionais de futebol feminino no Brasil. O clube dominou o cenário esportivo por anos, conquistando títulos importantes, como o hexacampeonato do Campeonato Carioca e da Taça Brasil de Futebol Feminino entre 1983 e 1988.

Saad Esporte Clube (1983)

Assim como o Radar, o Saad, de São Caetano do Sul, formou uma equipe feminina em 1983 e se destacou com inúmeras conquistas. Dentre elas, o tricampeonato do Troféu Comitê Olímpico Internacional e a Copa do Brasil em 2007.

Santos e São Paulo (década de 1990)

Dentre os tradicionais times de futebol masculino, Santos e São Paulo foram os pioneiros em ter uma equipe feminina. O Santos, em particular, se destacou na década de 1990, ajudando a estabelecer o futebol feminino em um cenário mais amplo.

Ferroviária (2001)

A Ferroviária criou sua equipe em 2001, muito antes de muitos clubes conhecidos, e a iniciativa visava democratizar a prática do esporte e formar jogadoras competitivas. Não é à toa que até hoje o clube é um dos favoritos a títulos nas competições nacionais e internacionais.

Flamengo (2011)

O Flamengo criou sua equipe feminina apenas em 2011, porém contribuiu para a visibilidade do futebol feminino no país devido ao seu tamanho no masculino.

Foto: Paula Reis/CRF

Corinthians e Grêmio (2016)

Ambos os clubes formaram suas equipes femininas em 2016, e desde então têm se destacado em competições nacionais, ajudando a elevar o nível do futebol feminino no Brasil. O Corinthians, inclusive, é o maior campeão do Brasileirão Feminino e o favorito a títulos nacionais e internacionais.

Palmeiras, Cruzeiro e Atlético Mineiro (2019)

Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG se juntaram ao movimento de criação de equipes femininas em 2019, conforme determinação da CBF.

FAQs

Quando o futebol feminino começou oficialmente no Brasil?

Embora os primeiros registros mostrem que o futebol feminino surgiu entre os anos 20 e 30 no Brasil, somente no fim da década de 70 que foi revogada a lei que proibia a prática entre as mulheres. No entanto, apenas em 1983 a modalidade foi regulamentada. Com isso, foi permitido que se pudesse competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas.

Como o preconceito afetou o desenvolvimento do futebol feminino brasileiro?

O preconceito foi um grande obstáculo para o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil ao longo da história, principalmente devido à proibição da prática instaurada em 1941, pelo governo de Getúlio Vargas.

O então presidente proibiu que o esporte fosse jogado entre as mulheres. A medida durou até 1979, o que impediu que muitas mulheres jogassem futebol e se profissionalizem durante este período. No entanto, mesmo coma revogação da proibição, não houve o mesmo incentivo e investimento como no futebol masculino.

Como as políticas da CBF influenciaram o futebol feminino?

Anos após a regulamentação do futebol feminino no Brasil, a CBF passou a exigir que as equipes tivessem um time de mulheres. No entanto, apenas em 2019 que a entidade máxima de futebol brasileira determinou que todos os times que disputassem a Série A do Brasileirão deveriam ter uma equipe feminina.

Além disso, Ednaldo Rodrigues anunciou que, a partir de 2027, todas as equipes das quatro divisões do Campeonato Brasileiro terão essa obrigatoriedade.

Como o sucesso internacional impactou o futebol feminino doméstico?

O sucesso internacional do futebol feminino, especialmente em competições como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, teve um impacto significativo no desenvolvimento do esporte na Europa e também em todo cenário global, o que inclui o Brasil.

Além disso, com a abertura do mercado europeu com equipes que investem no futebol feminino, houve a possibilidade de jogadoras se profissionalizarem para rumar ao Velho Continente, assim como acontece com os homens.

Times como Barcelona, Arsenal, Chelsea e outros da Europa se tornaram referência em futebol feminino e, por isso, tornaram-se foco de milhares de jogadoras do Brasil e do mundo. A Copa do Mundo Feminina também demonstra a potência de jogadoras que, antigamente, não tinham a mesma possibilidade.

Nathalia Gomes

Formada em Jornalismo desde 2016, sou uma gaúcha no Rio que tem forte ligação com tênis e futebol desde pequenininha. Também acompanho de perto a vida e rotina de Gabriel Medina! Ah! Além de jornalista, também sou a mamãe do Joca :)

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