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Grandeza do Al Hilal e conselho para Neymar: Digão revela segredos do futebol árabe ao 365Scores

Por: Gabriel Gonçalves, Lucas Pires e Sabrina Grimberg

Em entrevista exclusiva ao 365Scores, o zagueiro Digão, ídolo do Al Hilal e ex-Fluminense, abriu o jogo sobre o futebol árabe. Apesar de o país caminhar atualmente para contar com um dos melhores campeonatos do mundo, engana-se quem pensa que o movimento nasceu agora. O jogador já passou pelo mesmo processo dos dias de hoje, porém, há uma década

Com grande investimento em nomes como Cristiano Ronaldo, Neymar Jr e Karim Benzema, o país se inseriu cada vez mais no mapa do esporte. Digão detalhou a grandeza do Al Hilal, do Campeonato Árabe e até deu um conselho para Neymar, que será oficialmente apresentado neste sábado (19), na partida do clube contra o Al Feiha.

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Digão ainda era jogador do Fluminense quando recebeu uma proposta que, segundo ele, era irrecusável do Al Hilal. O ano era 2013 e o zagueiro ainda tinha contrato com o Tricolor. “Eu tinha medo, mas eu tinha um sonho de jogar fora do país. E acabou que o sonho falou mais alto que o medo. Amei o país, amo de paixão a Arábia. Foi uma experiência muito legal”, explicou.

Um dos motivos pelo o qual Digão se apaixonou pelo futebol árabe foi o calor da torcida e grandeza do Al Hilal. “Pra você ter uma noção: fomos jogar a final da Champions League Asiática na Austrália. Estava lotado. Metade do Al Hilal e metade do adversário. Tivemos uma final que também foi fora da Arábia, em Londres, e tipo, metade/metade. Loucura”, iniciou.

Digão, Al Hilal
Foto: Divulgação

“Com isso você já percebe um pouco da grandeza. Além da liga ser forte. Joguei nos Emirados um ano. Ali eu concordo que é uma liga pra fim de carreira. Tinha jogador do meu time que trabalhava em paralelo como policial. Fui tirar habilitação e dei de cara com ele, pra você ver como era. Na Arábia Saudita não, lá o jogador é profissionalizado. Na época não tinha outro esporte, igual Brasil. Povo era apaixonado por futebol. Na minha época já era grande a liga, hoje então…”, completou.

Ida de Neymar para o Al Hilal

Mais uma vez Neymar fez com que o mundo do futebol voltasse seu foco para ele. Desta vez, uma transferência polêmica para o Al Hilal, onde muitos criticaram a postura do brasileiro por estar “se vendendo” ao país muito novo – atualmente tem 31 anos de idade. Digão, por sua vez, segue um movimento contrário.

Neymar
Foto: Al Hilal/Divulgação

“Quem não conhece a liga, vai achar ruim. Mas eu que conheço vou falar o contrário porque vivi lá. Como falei, já era uma liga legal de se jogar, estádios lotados, torcida apaixonada. Talvez a pessoa que crítica a ida dele não faria diferente. Óbvio, pelo valor que tá sendo veiculado. Será que alguma pessoa faria diferente? Eu concordo plenamente com ele sim. Tem que ir mesmo. Quem não conhece o Al Hilal, acha que é pequeno. Mas é um grande clube. É surreal”, disse.

O conselho é pra que ele seja feliz, aproveite a vida. Ele passou por muitos grandes clubes e agora tá em mais um, o maior da Ásia. Espero que ele seja feliz, tenho muita certeza que vai. O país vai abraçar ele, eles amam brasileiros. Que ele não ligue pra o que as pessoas falam, porque a maioria gostaria de estar no lugar dele.

Digão para Neymar

Uma das principais preocupações dos brasileiros é a queda de rendimento de Neymar visando a Seleção. Convocado por Fernando Diniz, o camisa 10 segue dentro dos planos da CBF visando a Copa do Mundo de 2026. Digão aponta que, se o jogador continuar levando o futebol a sério, não terá problemas para seguir dando bons frutos à Seleção.

“Quando falo competitivo, não comparo com uma Premier League (Inglaterra), não dá, né. Mas eu não vejo muito distante não. O Al Hilal, por exemplo, disputa a Champions League da Ásia. Ou seja, enfrenta times de outros países e de nível alto. Não vejo longe da Seleção não. Se ele (Neymar) levar a sério, trabalhar mesmo, acho que ele vai chegar bem na Seleção”, iniciou.

A exemplo dos dias de hoje, o futebol árabe já era um atrativo principalmente por conta dos valores financeiros oferecidos. Sob seu ponto de vista, Digão acredita que a ida de grandes jogadores europeus para o país seja exclusivamente pelo dinheiro. “Ninguém sairia do Real Madrid para jogar lá (se não fosse pelo dinheiro). Claro, é uma boa liga, mas com todo respeito, ninguém sairia“, revelou.

Idolatria com presentes

Na Arábia, o futebol é um dos únicos entretenimentos que move multidões. Diferente do Brasil, em que artistas, cantores, entre outras figuras chamam a atenção nas ruas, os sauditas voltam sua idolatria apenas para jogadores de futebol. A consequência positiva eram os presentes.

“Quando te viam na rua, era loucura. Uma vez fui em uma loja de móveis com a minha esposa e o cara precisou fechar pra torcedores não invadirem. Isso eu tô falando de mim, um cara modesto. Imagina um Cristiano Ronaldo, Neymar. Esses caras não vão conseguir nadar na rua, é loucura. Não dá. Só se for em Dubai. Em uma praia saudita, em Riad, não consegue andar”, explicou.

O Neymar já ganhou uma casa de 25 quartos, né? Então nem precisa sair de casa. Os condomínios pra estrangeiros são muito bons, fazem isso pra todos ficarem confortáveis. Você só sai do condomínio se quiser fazer alguma coisa diferente. No que eu morei, tinha cinema no condomínio, rede de fast food no condomínio. Tudo. Era uma cidade quase. Só pra estrangeiro, ainda é assim. Acredito que não (vá precisar sair de casa). Os restaurantes de lá são muito bons, isso vale a pena. Lá tem tudo, todos os restaurantes do mundo, inclusive churrascaria brasileira”, completou.

Modéstia à parte, Digão também conseguiu regalias diretas dos sheiks árabes. Um de seus grandes presentes foi um rolex, que segundo ele, “não é nada” para os príncipes sauditas. Ainda de acordo com o zagueiro, um título de Supercopa o favoreceu ao ponto de conseguir mudar para uma casa melhor.

Digão
Foto: Divulgação

No jogo da Supercopa, que fomos campeões, em Londres, contra o Al Nassr, eu já queria mudar de casa. Eu morava em uma casa grande, mas não tinha piscina. Aí vagou uma lá e ela era muito acima do valor, até porque eles pagavam tudo: escola, moradia, etc. Eu queria mudar, mas não queria tirar do meu bolso. Cheguei nele e pedi. Ele disse: “Faz o seguinte: ganha do Al Nassr, seja campeão, que eu te dou a casa”. Fui pro jogo animado, fomos campeões e no vestiário ele me falou que a casa era minha. Eles gostam, fazem tudo pra você se sentir bem e dar o seu máximo dentro de campo. Você não tem que se preocupar com nada, conta de luz, passagem, era tudo eles. Seu foco era treinar e jogar

Digão sobre ter ganhado uma casa maior após título da Supercopa
Digão, Al Hilal
Foto: ADRIAN DENNIS/AFP via Getty Images

Ainda em sua fala, entretanto, Digão frisou a dificuldade que é a relação entre homens e mulheres, visto que apenas os casais que são oficialmente casados podem aparecer juntos. “Estava no shopping e uma fã apareceu e começou a chamar meu nome. Pensei: “Não é possível que ela tá me chamando”. Porque não pode. Se o segurança vê você conversando com uma mulher, não pode. Naquela época não podia, não sei agora. Eles chamavam a polícia, você ia preso. Mas pensei rápido, fui na loja que minha esposa tava e ela se ligou. Disfarçou e foi embora. Não pode, contato zero. De nenhuma das partes”, disse.

Aposentadoria a caminho?

Atualmente sem clube, Digão optou por deixar o futebol tailandês para passar um tempo com a família. Com 35 anos, o jogador se vê pronto para voltar aos gramados – dando preferência por continuar no Brasil.

“Já tiveram algumas propostas. Prefiro não falar os clubes, mas tiveram algumas. Foi muito bom esse momento com a minha família, coisa que não fazia muito tempo. Agora tá na hora de voltar. Ainda não sei (onde vão me ver em 2024), mas tem coisa boa aí. A gente tem que ser realista, né? Já tenho 35 anos, sair do Brasil com essa idade é mais difícil. Mas se pintar alguma proposta, não vou recusar”, revelou.

Digão ainda falou que, diferente de amigos, como Thiago Neves, não pretende se tornar treinador quando se aposentar. “Eu pretendo, quando parar, continuar no meio do futebol. Treinador não tenho vontade. Claro que se a vida me surpreender, eu não recuso. Mas é uma coisa que eu não escolho. Você vê aí que a vida de treinador é até pior. O cara fica uma semana no clube e é mandado embora. Muda tudo na vida. É uma vida que não quero levar pra mim. Mas pretendo continuar no meio. Comecei a fazer uns cursos e quero trabalhar na área de gestão”, concluiu.

Confira outras falas do jogador

  • História sobre o vice na Champions da Ásia

Nós tínhamos um treinador romeno que não gostava de brasileiro. Chegou e queria mandar a gente (eu e Thiago) embora. Mas a gente tinha muita moral lá dentro. “My Lion”, me chamavam assim. Ele pediu pro sheik, mas não conseguiu mandar a gente embora. Pra mim, o cara não merecia ganhar. Chegamos nas quartas, atropelamos. Semifinal também. Fomos para a final, contra o West Sydney, da Austrália. País parou na semana. Primeiro jogo foi fora, fomos uma semana antes, avião do rei. Torcedores foram juntos, cena de final. Tivemos que adaptar por conta do fuso horário e tal. Aí tivemos uma reunião com o príncipe. “O rei não pôde vir, mas ele mandou dar essa notícia pra vocês: se for campeão, a vida de vocês vai mudar”, ele falou. Era mais de um milhão de reais de bonificação. Fora que lá existem vários príncipes e todos torcem pro Al Hilal. Al Hilal ou Al Nassr. Os caras vão dando presentes, distribuem carro. O que a gente ia ganhar de premiação, era uma loucura. Natal do Neymar tá garantido faz tempo.

Aí fomos lá, primeiro jogo, amassamos mas perdemos de 1 a 0. Os caras deram dois chutes ao gol. Mas estávamos tranquilos. Pensamos que em Riad, nossa casa, íamos resolver. Começou o jogo e 70 mil pessoas no estádio. Bola rolando, três pênaltis e o juiz não deu. Se tivesse VAR, juiz marcaria. Muito escancarado. Bola na trave, tudo aconteceu, mas a bola não entrou e foi 0 a 0. Fiquei uma semana sem dormir, tive insônia. Aí eu e Thiago pegamos e fomos pra Maldivas. Foi um título que eu queria muito ter ganhado, penso até hoje. Marquei meu nome na história do clube, mas ficaria mais ainda. O clube não ganhava o título há 20 anos. Era outro nome, a taça era diferente. Seria o primeiro naquele formato. Me marcou de uma forma muito negativa.

  • Treinamento nas altas temperaturas da Arábia

A época mais quente era entre junho e agosto, que é o Ramadã. Mas normalmente nessa época eles fazem os treinos na Europa. Só que quando volta, ainda tá calor. Tinha época que treinávamos às 23h, chegava em casa de madrugada, e mesmo assim ainda estava muito calor. Você ficava transpirando muito. No começo é difícil, mas você vai se adaptando.

Lucas Pires

Jornalista graduado pela ESPM do Rio de Janeiro que, além de compartilhar histórias, gosta de mostrar o lado curioso delas. Editor-chefe, setorista do Botafogo e redação voltada para esportes americanos, com foco em NBA e NFL, lutas e futebol de todos os times do mundo e seleções.

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