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Fim da era Cássio: relembre toda a trajetória de um dos maiores ídolos do Corinthians

Nesta sexta-feira (17), Corinthians e Cássio acertaram a rescisão do contrato do histórico goleiro após 12 anos defendendo a meta alvinegra. O defensor deixa o clube como o segundo jogador que mais vestiu o uniforme do Timão. O anúncio da saída foi feito pelas redes sociais.

Ao todo, foram 712 jogos defendendo a equipe paulista, com 316 vitórias, 217 empates, 179 derrotas, nove títulos e 280 jogos sem sofrer gol.

Pelo Corinthians, Cássio conquistou uma Copa Libertadores (2012), Mundial de Clubes (2012), dois Campeonatos Brasileiros (2015 e 2017), quatro Campeonatos Paulistas (2013, 2017, 2018 e 2019) e uma Recopa Sul-Americana (2013).

Cássio venceu o Brasileirão duas vezes
Foto: Rodrigo Coca/Ag Corinthians

No fim da linha da passagem do ídolo corintiano, o 365Scores relembra toda a passagem do gigante pelo Timão.

Negociação misteriosa

A chegada do goleiro Cássio aconteceu com uma negociação silenciosa nos bastidores. O ex-presidente do Timão, Andrés Sanchez já falou que disse para o jogador que se as tratativas vazassem, não teria acordo. Segundo o ex-mandatário, nem mesmo Tite e comissão técnica sabiam do reforço.

Nem mesmo a família do jogador sabia que ele fecharia com o Alvinegro, sendo o segredo revelado após o carro de seu primo atolar em Nova Prata no dia que o Corinthians venceu o Brasileirão, quando seu tio Guinho citou a conquista.

“Não falei nem para minha mãe, eu guardei a sete chaves. Afinal, fiquei com medo, vai que… Não medo de falar, porque eu acho que eles ficariam muito felizes, mas e se comentassem com alguém sem querer? É assim que começam os vazamentos”, revelou no livro “Cássio: a trajetória do maior goleiro da história do Corinthians”, escrito por Celso Unzelte.

Apresentação tardia

Após aproximadamente um mês depois de ter chegado ao Alvinegro, Cássio foi apresentado como novo reforço do Corinthians em 2 de fevereiro, ao lado do zagueiro Felipe, que teve passagens por Porto e Atlético de Madrid posteriormente.

Revelado pelo Grêmio, ele chegava para ser o terceiro goleiro do time que contava com Júlio César e Danilo Fernandes. Aos 24 anos, já tinha a experiência de quatro no PSV.

“Acho que, até hoje, estou na lista. Esses jogos treino ajudam a confundir a cabeça do professor. Como tem muitos jogos, tudo fica mais fácil tendo uma oportunidade. Primeiro, quero treinar bem para buscar meu objetivo de jogar”, afirmou em sua apresentação.

Foto: Daniel Augusto Jr/ Agência Corinthians

“Bota o Cássio”

A primeira partida de Cássio pelo Corinthians aconteceu no dia 28 de março de 2012, contra o XV de Piracicaba, em um sábado à noite, no Pacaembu. Na ocasião, Tite optou por escalar um time misto e venceu por 1 a 0.

O mesmo Campeonato Paulista oportunizou a maior chance da carreira do goleiro. A equipe foi eliminada precocemente nas quartas de final pela Ponte Preta, com falhas do então dono da posição, Júlio César, grande personagem da conquista do Brasileirão em 2011.

Depois da queda, o técnico Tite se reuniu com o preparador de goleiros Mauri Lima para debater quem deveria ser o dono da meta alvinegra e o profissional respondeu: “Pode botar, professor. A responsabilidade é minha, pode botar para jogar”.

O início da história na Libertadores

Jovem e recém titular de um dos maiores clubes do Brasil, o goleiro iniciou sua trajetória na Libertadores (título que o time não tinha ainda) contra o Emelec, em Guaiaquil. Antes da partida, contou com o apoio de Tite na imprensa.

“Sabe de sua responsabilidade e tem plena consciência do jogo decisivo e de tudo o que representa vestir a camisa do Corinthians. A preparação dele foi boa, por isso a tranquilidade de colocá-lo em campo”, disse o técnico na época, antes do empate em 0 a 0.

“Não fiquei nervoso. Claro que tem a ansiedade pela situação, acho que todo o time teve, mas fomos bem. O mais importante foi a gente não ter perdido, agora basta uma vitória”, disse Cássio.

Pressão, ameaça e nome na história

Quando o gaúcho chegou ao Timão, os corintianos eram muito zoados por serem o único time dos quatro grandes paulistas que nunca tinham vencido uma Libertadores. Logo com três meses de clube, o goleiro sentiu a pressão pela conquista com uma ameaça.

 Foto: Daniel Augusto Jr./ Ag. Corinthians

“Era um sábado à noite, um cara chegou e falou: Vamos passar pela Libertadores, hein? Porque eu sei onde tu mora”. Assim, em tom de ameaça. Eu tinha só três meses de clube, nunca tinha pegado esse tipo de pressão”, revelou o atleta.

Batalhas contra o Vasco

Antigo rival de 2011, contra quem disputou o título do Brasileirão, o Alvinegro enfrentou o Cruzmaltino nas quartas de final da Libertadores. Na ida, em um jogo com gramado castigado pela chuva, o placar ficou zerado, sem nenhuma grande ação do então camisa 24.

Na volta, Cássio protagonizou o lance mais icônico de sua carreira. Aos 17 minutos da segunda etapa, Fernando Pras socou um cruzamento, a bola sobrou para Alessandro, que tentou um chute, mas Diego Souza tomou a posse e avançou sozinho.

Foram sete segundos desde o primeiro toque do atacante vascaíno até o chute, que foi defendido por Cássio e passou rente a trave direita. Posteriormente, Paulinho garantiu a vaga do Timão na semifinal. Na decisão contra o Boca, o goleiro foi pouco exigido, mas teve segurança quando precisou.

 Foto: Daniel Augusto Jr./ Ag. Corinthians

“Primeira coisa que pensei foi sair, mas não dava. Vim um pouco para trás e vi onde eu estava. Todos falam que foi uma eternidade, mas para nós é muito rápido. Tentei me posicionar, quando vi, estava em cima. Quando ele definiu, usei meu tamanho e consegui desviar”, relembrou o goleiro em entrevista ao jornalista Duda Garbi.

Muralha contra os ingleses

Uma das maiores atuações de um goleiro com a camisa do Corinthians, Cássio fez sete defesas contra o Chelsea no Mundial de Clubes, contando com alguns milagres, como contra Moses, Cahil e Fernando Torres.

“A defesa do Moses foi a mais difícil. Eu não vi a bola sair, mas, de mão trocada, consegui desviar. É sempre difícil quando você não vê, mas consegui usar minha envergadura”, disse o camisa 12.

 Foto: Daniel Augusto Jr./ Ag. Corinthians

A primeira crise

Já ídolo do Corinthians, Cássio passou a se relacionar com um grupo de pessoas que frequentava sua casa, promovendo festas que eram por conta dele. Por isso, o jogador passou a não ter mais controle de sua vida financeira.

“Teve situações em 2014, 2015 em que eu acordava e minha casa estava cheia de gente que eu nem conhecia. Eram situações de eu acordar à noite, ter feito festa na minha casa e não saber quem estava lá. A casa cheia de gente, bebida, festa”, revelou o goleiro Celso Unzelte.

No começo de 2016, Cássio quase deixou o Corinthians rumo ao futebol turco. Entretanto, a negociação com o Besiktas nunca chegou a ser concretizada.

Porém, na temporada, o defensor foi preterido por Walter, que contou com o apoio do camisa 12, que até mesmo mandou uma mensagem de apoio para o companheiro ressaltando que seu problema era com o técnico Tite. Entretanto, antes do comandante assumir a Seleção, o goleiro admitiu que estava errado.

Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

“Professor, eu perdi minha posição por culpa minha, foi erro meu. Vou tentar fazer de tudo para buscá-la de volta, com todo respeito ao Walter, mas eu quero”, disse o jogador.

Segundo título brasileiro e Copa do Mundo

Em 2017, em um elenco que iniciou o ano sob desconfiança e comando de Fábio Carille, Cássio participou do elenco que conquistou Campeonato Paulista e Brasileirão. Naquela edição do nacional, participou de 35 partidas, com 29 gols sofridos e 16 partidas sem ser vazado.

O desempenho que continuou a ser positivo rendeu uma convocação para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. No ano seguinte, ainda conquistou o tri-campeonato do Paulistão.

Foto: Reprodução X

Maior pegador de pênaltis da história do Corinthians

Apesar das críticas de parte da torcida, a última temporada completa do goleiro pelo Timão teve números que respaldavam seu trabalho.

Em abril, contra o Remo, chegou a 28 cobranças defendidas e se tornou o maior pegador de pênaltis da história do clube. Ao todo, foram mais de 32 defesas, sendo 22 em disputas por penalidades e 10 no tempo normal.

Foto: Divulgação Conmebol

Todos os pênaltis que Cássio pegou no Corinthians:

  • 1 – 0 x 0 São Paulo – (semifinal – Paulistão 2013) – Luis Fabiano
  • 2 – 0 x 0 São Paulo – (Brasileirão 2013) – Rogério Ceni (tempo normal)
  • 3 – 0 x 1 Flamengo – (Brasileirão 2014) – Eduardo da Silva (tempo normal)
  • 4 – 1 x 0 São Paulo – (Paulistão 2015) – Rogério Ceni (tempo normal)
  • 5 – 6 x 1 São Paulo – (Brasileirão 2015) – Alan Kardec (tempo normal)
  • 6 – 0 x 1 Fluminense – (Brasileirão 2016) – Cícero (tempo normal)
  • 7 – 0 x 0 São Paulo – (Torneio da Flórida 2017) – Araruna
  • 8 – 1 x 1 Internacional – (segunda fase da Copa do Brasil 2017) – Ortiz
  • 9 – 1 x 0 Grêmio (Brasileirão 2017) – Luan (tempo normal)
  • 10 – 2 x 0 Ponte Preta (Brasileirão 2017) – Lucca (tempo normal)
  • 11 – 1 x 0 São Paulo – (semifinal – Paulistão 2018) – Diego Souza
  • 12 – 1 x 0 São Paulo – (semifinal – Paulistão 2018) – Liziero
  • 13 – 1 x 0 Palmeiras – (final Paulistão 2018) – Dudu
  • 14 – 1 x 0 Palmeiras – (final Paulistão 2018) – Lucas Lima
  • 15 – 1 x 1 Racing – (primeira fase da Sul-Americana 2019) – Domínguez
  • 16 – 1 x 1 Racing – (primeira fase da Sul-Americana 2019) – Solari
  • 17 – 1 x 1 Ferroviária (quartas – Paulistão 2019) – Thiago Santos
  • 18 – 1 x 4 Flamengo (Brasileirão 2019) – Bruno Henrique (tempo normal)
  • 19 – 1 x 1 Palmeiras (Final Paulistão 2020)- Bruno Henrique
  • 20 – 1 x 0 Mirassol (Paulistão 2021) – Fabrício
  • 21 – 1X1 Guarani (Paulistão 2022, quartas, disputa) – Madison
  • 22 – 0x0 Deportivo Cali (Libertadores 2022) – Téo Gutiérrez (tempo normal)
  • 23 – 0x0 Boca Juniors (Libertadores 2022) – Juan Ramírez
  • 24 – 0x0 Boca Juniors (Libertadores 2022) – Villa
  • 25 – 1×1 Flamengo (final da Copa do Brasil 2022) – Filipe Luís
  • 26 – 3×0 Mirassol (Paulistão 2023) – Camilo (tempo normal)
  • 27 – (6)1×1 (7) Ituano- (Quartas Paulistão 2023)- Mário Sérgio
  • 28 – (5) 2×0 (4) Remo – (Terceira fase da Copa do Brasil 2023) – Leonan
  • 29 – (3) 2 x 0 (1) Atlético-MG (oitavas de final da Copa do Brasil 2023) – Hulk
  • 30 – (3) 3 x 2 (1) América-MG (quartas de final da Copa do Brasil 2023) – Paulinho Bóia
  • 31 – (3) 3 x 2 (1) América-MG (quartas de final da Copa do Brasil 2023) – Benítez
  • 32 – (2) 1×0 (3) Corinthians- Quartas da Sul-Americana 2023) – Rollheiser

Perseguição de parte da torcida e desabafo

No início desta temporada, as críticas de parte da torcida ao goleiro aumentaram após a ascensão de Carlos Miguel em 2023. Entretanto, as estatísticas, apesar de não serem tão positivas, não são tão ruins quanto alguns pensam.

Foram 17 partidas disputadas até o momento, com 18 gols sofridos e cinco jogos sem sofrer gols. O goleiro do São Paulo, Rafael, por exemplo, tem 23 partidas, com 24 gols sofridos e seis jogos sem ser vazado. Na última temporada, foi o quarto goleiro com mais defesas difíceis no Brasilierão, com 31.

As críticas pesaram na decisão do goleiro em deixar o Timão, como ele mesmo deixou claro em desabafo após derrota para o Argentinos Juniors, pela Sul-Americana.

“A cobrança faz parte. Mas passam dos limites das coisas, da falta de respeito. Esse ano saíram um monte de jogadores, mais velhos. Eu fiquei, um dos mais velhos, sabia que a cobrança seria grande. Errei em alguns gols? Errei sim. Mas é isso, tudo de errado do Corinthians parece que é minha culpa. Eu sou o culpado de tudo. Se eu sou o culpado, de repente é melhor eu sair e seguir meu caminho” disse, em entrevista à ESPN.

Foto: Rodrigo Coca/Ag Corinthians

“Eu vou estar aí, sou o capitão do time. Não me eximo de erros. O treinador e o presidente decidem, se eu tiver atrapalhando o Corinthians, se não estiver agradando… Para mim está muito difícil também. Na verdade, tudo de mal que acontece com o Corinthians sempre sobra para mim. Time não faz gol, é culpa do Cássio. Time não joga bem, é culpa do Cássio. Tenho humildade em saber quando eu erro. É um momento difícil. Tem muita coisa pela frente, esse começo de temporada tem que servir de aprendizado. Estamos nessa situação e temos que tentar sair”, desabafou Cássio.

Fim da linha

Desde que concedeu a entrevista onde desabafou sobre o momento, o camisa 12 não jogou mais pelo Timão, ficando no banco de reservas enquanto Carlos Miguel assumiu a meta. Nesta sexta-feira (17), o presidente do clube confirmou a saída do ídolo.

“Foi bom para os dois lados”, disse Augusto Melo na saída do CT Joaquim Grava.

Foto; Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Pela manhã, Cássio voltou ao CT Joaquim Grava pela última vez. Com acordo para rescindir seu vínculo, não foi a campo. O clima de despedida tomou conta do ambiente dos funcionários, mas os torcedores, não tiveram chance de se despedir.

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Eduardo Statuti

Repórter multimídia do 365Scores, atuo na cobertura de Atlético, Cruzeiro e América-MG. Também escrevo um pouco sobre Fórmula 1 e acompanho de perto a carreira de Hulk, Yuri Alberto e Neymar.

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