Escândalo do Barcelona: Relembre outros casos polêmicos que o clube esteve envolvido
O Barcelona é acusado de pagar um total de R$ 7,8 milhões a uma empresa do ex-vice-presidente do comitê de arbitragem da Espanha, segundo investigações feitas pela Procuradoria da cidade. O Ministério Público local investiga a “DASNIL 95 SL”, empresa que pertence a Enríquez Negreira, que recebeu a quantia do clube catalão entre 2016 e 2018.
No entanto, não é a primeira vez que o clube está envolvido em polêmicas e possíveis fraudes. Desde 1973, o Barcelona tem seu nome ligado a escândalos de corrupção no futebol. O mais recente foi em 2019 até 2022 entre Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola, Javier Tebas, presidente de La Liga, e Gerard Piqué, zagueiro catalão.
O perfil espanhol Fútbolgate.com fez um apanhado geral de todos os casos polêmicos em que o Barça esteve envolvido.
Relembre outros casos:
Máfia na arbitragem – 1973
Um dirigente do Barcelona contatou o árbitro Medina Iglesias para saber se Antonio Camacho havia recebido dinheiro. O caso foi descoberto apenas em 1975. À época, a Federação Espanhola de Futebol decidiu resolver o assunto com a máxima discrição possível.
Em 1976, o caso veio à tona para a imprensa. Finalmente, após a investigação da Federação Espanhola, três árbitros foram separados: Antonio Camacho, López Samper e Antonio Rigo. O Barça, apesar de tudo ter começado com um dos seus dirigentes, não foi incomodado pela federação.
“Uma suposta máfia de arbitragem com dirigentes, intermediários e colaboradores. Dizia-se mesmo que havia taxas de 250.000 e 500.000 pesetas por jogo ganho”, escreveu o jornalista José María García, que divulgou o caso.
Tenerife x Real Madrid – 1991/92 a 1994
A decisão do Campeonato Espanhol de 1991/92 foi uma das mais polêmicas da história. Em 2 de junho de 1992, a RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) nomeia Raúl García de Loza para arbitrar a partida mais importante do ano e que determinará o campeão da liga no último dia.
Contextualização sobre quem é García De Loza
García De Loza estreou na primeira divisão em 1980, e era um árbitro polêmico que concedeu vários pênaltis por suas decisões e declarações errôneas. Chegou a ficar até dois meses seguidos sem arbitrar uma partida em 1982. Repetia punições com frequência , sendo as mais notórias em 1984 e 1986 com um mês sem dirigir uma partida.
Em 1988, a vida de árbitro de García de Loza mudou radicalmente com a chegada do novo presidente da federação espanhola de futebol: Ángel María Villar. Apesar de suas inúmeras polêmicas e péssimas arbitragens, recebeu o prêmio de Internacionalidade em 1990 .
Nesse mesmo ano, para surpresa de todos, foi nomeado para arbitrar o jogo mais importante (até então) da sua carreira: a final da Taça entre Real Madrid e Barça, que foi conquistada pelos catalães.
O árbitro não expulsou um jogador catalão após entrada violenta no adversário, que ficou sangrando em campo e com os meiões rasgados. Após dois minutos, García expulsou Hierro, do Real Madrid, por um duplo amarelo em uma ação altamente discutível.
García De Loza também perdoou a expulsão de Koeman pelas inúmeras faltas sem ver cartões. O zagueiro holandês viu o primeiro cartão apenas aos 61 minutos de jogo.
Dias depois da final, o árbitro afirma que vai levar Schuster (jogador do Real Madrid na época) ao tribunal devido às declarações. Além disso, ameaça Gordillo durante entrevista: “Vou comer os ovos dele” . Em dois anos ele foi escolhido para liderar a decisão entre Tenerife e Real Madrid.
Decisão entre Real Madrid e Tenerife
Na véspera da partida decisiva, Luis Milla recebe uma ligação em seu quarto de hotel. Um antigo companheiro de equipe e então jogador do Barça tentou suborná-lo. Ele oferece dinheiro para provocar um pênalti ou um gol contra.
Já o Tenerife recebeu bônus recorde do Barcelona para vencer o jogo, como confirmaram os próprios jogadores do time meses depois.
No dia 7 de junho, o jogo polêmico foi realizado. O Real Madrid precisava vencer, e o Barcelona precisava de uma vitória do Tenerife, além de vitória em sua partida, para ser campeão. Os merengues venciam por 2 a 1 até o intervalo.
No segundo tempo, Luis Milla marcou o terceiro gol do Real em situação legal. O árbitro García de Loza anulou o gol, que gol provavelmente teria garantido o título para o time de Madrid. Depois, ataques do time foram marcados como impedimentos.
García ainda expulsou um jogador da equipe com dois cartões amarelos em menos de três minutos. O primeiro cartão por uma falta inexistente e o segundo muito rigoroso. O Real Madrid perdeu o jogo e o Barcelona se sagrou campeão.
A imprensa, em geral, encobriu o escândalo da arbitragem e a tentativa de suborno do Barça a Luis Milla.
Compra de árbitros – 2000 e 2003
Candidato à presidência do Barcelona entre 2000 e 2003, Luís Bassat fez algumas declarações surpreendentes ao jornal “Marca”, em 2013. O publicitário confessou uma conversa que teve com a esposa assim que chegou em casa após a derrota eleitoral para Joan Laporta.
Uma pessoa muito importante do clube me disse que eu não poderia ser presidente do Barça porque não sabia comprar árbitros”, disse o publicitário.
Segundo ele, Joan Gaspart, candidato em 2000, e Laporta, candidato em 2003, trapacearam nas eleições.
Eleições da Real Federação Espanhola de Futebol – 2004
A assembléia concorda em votar em González, rival de Villar e apoiado por Florentino Pérez e Joan Laporta. No entanto, sem avisar e no último momento, o então presidente do Barça muda o voto e “salva Villar”.
Apenas um mês depois, Ángel María Villar “pagou” pelo apoio incondicional de Laporta ao nomear Joan Gaspart (ex-presidente do Barça e um conhecido anti-madridista) como vice-presidente da RFEF. Além disso, recompensou os árbitros que apitam na direção do Barça e puniu os que erram a favor do Real Madrid. Uma mensagem indireta, mas clara, aos árbitros.
Unicef, Uefa e Barcelona – 2006 a 2015
O Barcelona viveu o melhor período na Liga dos Campeões em 2006 quando fez parceria com a Unicef (o time usava a logo da empresa nos uniformes), além de ter a Uefa como aliada. A publicidade foi avaliada em 20 milhões de euros e o seu valor aumentaria consideravelmente nos anos seguintes. Porém a Unicef não desembolsou um único euro.
O Barcelona também se comprometeu a doar à Unicef um mínimo de 1,5 milhões de euros por ano, além de 0,7% das receitas do clube para programas e projetos da empresa. Quanto mais o Barça avançava na Liga dos Campeões, mais receita para a UNICEF.
O clube catalão também fez várias doações e promoções para a organização humanitária, cujo diretor de projeto era Şenes Erzik, que foi vice-presidente e chefe dos árbitros da Uefa. Grandes polêmicas aconteceram nas partidas do Barcelona, todas a favor da equipe:
- 2008/09: O famoso escândalo de Stamford Bridge. Ovrebo não marcou quatro pênaltis. O Barça se classificou para a final e conquistou a Liga dos Campeões;
- 2009/10: O árbitro expulsa Motta por simulação de Busquets;
- 2010/11: Aos 60 minutos do segundo tempo, o Arsenal está classificado. O árbitro expulsa Van Persie por chutar um segundo após apitar impedimento;
- 2010/11: Durante o 0 a 0, árbitro expulsa Pepe após simulação de Alvés. Na segunda etapa, anulou um gol legal de Higuaín. O Barça venceu a Liga dos Campeões;
- 2011/12: No segundo tempo, o Milan empatava em 1 a 1 e garantia a classificação. O árbitro marcou um segundo pênalti a favor do Barça enquanto a bola não estava em jogo;
- 2011/12: Jogo de volta contra o Chelsea. Terry é expulso aos 37, e o Chelsea recebeu seis cartões amarelos.
- 2013/14: No jogo de ida contra o Manchester City, o árbitro marcou pênalti de fora da área e expulsou o zagueiro do City.
Um dado curioso foi que, desde que Şenes Erzik deixou a Uefa, o Barça não chegou a uma única final da Liga dos Campeões. Outro ponto é que a camisa com a logo da Unicef foi lançada pela primeira vez no principal torneio da Europa, e não nas competições nacionais.
Além do diretor de projetos da Unicef, nesse mesmo período Gaspart , Vilaseca Guash e o próprio Laporta tiveram cargos diferentes dentro da Uefa. Ángel Villar também foi listado como vice-presidente e no comitê de árbitros.
Relação Piqué e Tebas – 2019 a 2022
O ex-capitão do Barcelona Gerard Piqué estreitou seus laços com Javier Tebas, presidente de La Liga, desde que anunciou sua aposentadoria do futebol. O mandatário, inclusive, aponta que o ex-zagueiro é um dos favoritos a assumir a presidência do clube catalão.
“Não tenho dúvidas (de que Piqué será presidente do Barça um dia). Ele tem as três qualidades essenciais para ser presidente do Barcelona: está no clube há 25 anos; conhece o mundo do futebo como jogador; e conhece a indústria do esporte e do futebol como homem de negócios”, opinou Javier Tebas, em entrevista à rádio “Cadena COPE”.
“Ele sabe que todos os lados têm diferentes facetas. Piqué já teve experiência em tomas decisões como homem de negócios, com sucesso e fracassos, e pode se tornar um grande presidente do Barcelona. Acredito que ele pode, e acredito que tem toda a capacidade”, complementou.
A relação de ambos melhorou desde que Piqué, como empresário, começou a negociar com Tebas. O ex-jogador é fundador e presidente da Kosmos, empresa que trabalha nas áreas de esporte, mídia e entretenimento. Entre os projetos de sua companhia, estão jogos da Copa Davis de tênis e a gerência do FC Andorra.
Desde que foi comprado pelo atleta do Barça, o FC Andorra subiu da 5ª para a 2ª divisão da Espanha em apenas quatro anos.
A Kosmos também já atuou como intermediária em negociações entre as Federações de Futebol da Espanha e da Arábia Saudita para realização da Supercopa da Espanha no país do Oriente Médio.
“Ele ainda é muito jovem. Portanto, tem muitos anos para se preparar para virar o presidente do Barcelona. Ele sabe que você precisa ter experiência para assumir o papel de presidente de um dos maiores times do mundo, que está no grupo das duas maiores entidades do planeta”, finalizou.
DASNIL 95 SL e Barcelona – 2023
Um novo caso de escândalo veio à tona em fevereiro de 2023. O Barcelona fez pagamentos totalizando R$ 7,8 milhões a uma empresa do ex-vice-presidente do comitê de arbitragem da Espanha, segundo investigações feitas pela Procuradoria da cidade.
O Ministério Público local investiga a “DASNIL 95 SL”, empresa que pertence a Enríquez Negreira, que recebeu a quantia do clube catalão entre 2016 e 2018.
De acordo com o portal “SER”, a empresa do ex-árbitro recebeu aproximadamente R$ 2,9 milhões em 2016, R$ 3 milhões em 2017 e R$ 1,7 milhões em 2018. A investigação começou após uma inspeção fiscal da empresa.
No entanto, a empresa de Enríquez Negreira nunca declarou qualquer documento comprovativo de ter prestado serviço ao Barcelona. O ex-presidente Josep Maria Bartomeu garantiu ao “SER” que os pagamentos terminaram devido a “uma política de corte de despesas” e revelou que os relatórios já existiam “pelo menos desde 2003”, quando chegou ao clube, e que foram pagos continuamente até 2018.